Sempre cabe mais um no coração partido
- Christiane Brito
- 31 de jul. de 2015
- 1 min de leitura
Nos anos 1940, Yoko Ono viveu a guerra atômica no Japão; em 1980, viu seu marido, John Lennon, ser assassinado ao seu lado. O que é que se faz com tragédias?
A artista consertou o destruído e preservou o intacto. Também simbolicamente, na coleção que criou para a mostra Yoko Ono: One Woman Show – 1960-1971, em cartaz no Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York.
A coleção "Xícaras reparadas" consiste de seis xícaras, com traços que simulam marcas de quebras e restaurações. Os pires trazem dizeres de acontecimentos catastróficos que abalaram o mundo e a trajetória de Ono, como o assassinato de John Lennon (1980) e a bombardeamento de Hiroshima, matando milhares de pessoas no final da Segunda Guerra (1945). Cada evento indicado no pires mostra a data e o local do acontecimento, com a conclusão “And mended in 2015” (E reparada em 2015).
A sétima xícara da coleção, "Unbroken cup" (xícara inquebrável), está sem nenhuma marca de quebra e reparo, refletindo a paz e a esperança. Contém a frase “Essa xícara nunca será quebrada enquanto estiver sob sua proteção”. Ono interage assim com o visitante da mostra, delicadamente propondo que ele tente preservar-se de novas quebras interiores.
Para esse projeto, a artista plástica usou a técnica da arte japonesa do Kintsugi, de restaurar peças quebradas ou rachaduras em peças de cerâmica com pinceladas de ouro, transformando esses ‘defeitos’ em preciosos detalhes. E valorizando a peça por seu passado, seu dano. Assim as histórias dos idosos, suas perdas, têm valor inestimável. O valor de uma vida!

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