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A doçura de saber que jamais amaremos menos

  • Christiane Brito
  • 4 de dez. de 2015
  • 2 min de leitura

biografia do idoso

“Você sabia que quando era uma menininha sempre me abraçava e beijava, muito carinhosa?”

Eu não sabia, foi a primeira vez que a minha mãe me contou, na semana passada. Que bom que ela está aqui comigo e que pode revelar coisas sobre mim, sobre nós, sobre um passado preservado na memória enquanto nossas vidas seguem.

Não durará para sempre, esta é a certeza que temos na vivência de todo relacionamento, esta é a certeza com a qual me confrontei duramente nos últimos dias em que mais de um amigo perdeu alguém amado. Impossível não me entregar a indagações e escrever sobre elas.

“É uma doçura saber que jamais amaremos menos”

Encontrei em Proust o consolo do luto que revela doçuras. Compartilho com todos, não porque este domingo é dia das mães (data comercial, é o que assumidamente penso), mas porque todo dia é dia de sobrevoar o cotidiano para dimensionar a grandeza dos vínculos que nutrem nossa existência, que moldam nossa identidade, que antecipam rumores da eternidade possível neste mundo transitório. O amor fica, soa banal, mas é verdade comprovável.

Segue a carta de Proust ao amigo que perdeu a mãe; o próprio Proust perdera a sua um ano antes:

“Posso lhe dizer uma coisa: você conhecerá doçuras em que ainda não pode acreditar. Quando tinha sua mãe, você pensava muito nos dias de hoje, em que você não a teria mais. Agora você pensará muito nos dias em que ainda a tinha. Quando se habituar a essa coisa horrível que está sempre no outrora, então a sentirá reviver pouco a pouco, voltar para assumir seu lugar, seu lugar pleno junto a você. Nesse momento, isso ainda não é possível. Fique inerte, espere que a força incompreensível que o partiu o alivie um pouco, digo um pouco porque você conservará para sempre algo de partido. Diga também isso a si mesmo, pois é uma doçura saber que jamais amaremos menos, que nunca nos consolaremos, que nos lembraremos cada vez mais.”

( “Marcel Proust de 1907 a 1914”, de Henri Bonnet, Paris, 1971)

 
 
 

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