Enquanto os países da Europa fortificam e fecham fronteiras, um geofísico de 75 anos, aposentado, quer dar um pedaço da Noruega para a vizinha Finlândia. O gesto não é político nem atende a uma demanda humanitária, mas certamente será lembrado no futuro como o mais altruísta – e criativo -- da história entre os povos.
Bjørn Geirr Harsson nasceu no dia 23 de janeiro de 1940 na Noruega, tem paixão pela natureza e sempre defendeu causas dentro do seu campo de atuação: elas envolvem mobilidade e acessibilidade, direitos humanos por excelência.
Ganhou prêmios, condecoração do rei (a Noruega é uma monarquia constitucional com sistema parlamentar de governo), reconhecimento da Unesco, escreveu livros. Aposentou-se do trabalho por tempo de serviço e continuou na ativa porque coração que se preza não se aposenta jamais.
A inquietude o leva, de vez em quando, às manchetes de jornal com novas propostas para o país, nenhuma delas como a que fez agora, em dezembro de 2015: dar uma montanha para a Finlândia.
O sonho começou a se esboçar em 1972, quando o geofísico costumava sobrevoar, a trabalho, a fronteira da Noruega com a Finlândia. Essa linha é demarcada pelo monte Halti, no qual a maior parte do território cabe ao país vizinho e o pico, ao país natal de Harsson.
A divisão não é compreensível e parece injusta, defende o geofísico, já que o pico do Halti tem apenas 1.365 m de altura - o que o exclui da lista de 200 maiores picos da Noruega --, no entanto, ultrapassa em cerca de 40 cm o ponto mais elevado da Finlândia (Hálditšohkka, com 1.324 m), que sequer é considerado “montanha”.
Com belíssimos lagos e ilhas, os finlandeses não podem reclamar dos seus atrativos naturais e turísticos, que incluem o fenômeno da aurora boreal e a casa oficial do Papai Noel, mas eles não têm montanha.
“Eu passei esses anos todos me perguntando por que o pico do Halti não pertence à Finlândia até que tive a ideia de propor a doação”, conta Harsson.
Expôs a sugestão a amigos e familiares antes de decidir contatar Anne Cathrine Frøstrup, diretora do Norwegian Mapping Authority -- seu ex-empregador --, fazendo a proposta.
Argumentou: “Basta traçar uma linha de 200 metros ao norte e 150 metros a oeste, desenhando um pequeno triângulo no mapa fronteiriço. Assim daríamos à Finlândia o seu pico mais alto e perderíamos apenas 0,015 km2 de território, uma porção imperceptível de terra”.
Anne aprovou o “presente” publicamente, dando o pontapé inicial para transformar em realidade a filosófica frase de Friederic Nietszche: “A fé não move montanhas. Na verdade, coloca-as onde não existem.”
Os noruegueses também estão aderindo entusiasticamente ao projeto, por meio de curtidas em uma página do facebook: já somam mais de 11 mil em cerca de 20 dias.
“Não entendo nada de rede social, tenho o palpite de que foi o meu filho que criou a página”, explica o visionário e empreendedor Harsson.
A sua proposta é dar o pico para a Finlândia como presente de aniversário, em 2017, data em que o país comemorará 100 anos de independência da Rússia.
Além das dificuldades burocráticas e administrativas que a doação envolve, a maioria dos cinco milhões de habitantes da Noruega terá de endossar a iniciativa. Parece que não haverá dificuldade nesse sentido.
“Os noruegueses farão história e se tornarão heróis não só na Finlândia, mas no mundo todo”, diz Jyrki Veranen em um comentário na página do Facebook.
Entre muitas lições que o sonho do geofísico nos traz está a certeza de que os idosos ainda estão escrevendo a sua biografia, mesmo após os 70 anos, e podem se tornar pioneiros em campos onde ninguém se aventurou antes.
Para aderir à campanha, “Halti como presente de aniversário”, acesse o link aqui e junte-se ao time do verdadeiro Papai Noel de 2015, o norueguês que quer dar o maior presente do mundo à Finlândia.
Fotos: Frode Johansen, Hotel Kakslauttanen (Cabana Casa do Papai Noel), Haltijubileum (página do Facebook)